Prólogo



       O mais incrível de tudo isso era que, apesar de eu já estar convencida do que iria fazer, quando cheguei naquele lugar tudo começou a parecer muito patético e até covarde.
       E estava tudo tão branco, como sempre; mas eu nunca iria me acostumar. Aquela claridade simplesmente me irritava, assim como aquela névoa. Mas não era uma névoa que amedrontava (aquele lugar não dava medo), era como se eu estivesse dentro de uma sauna de fumaça: era tudo branco e fumarento, mas não era frio. Certamente ali não era uma sauna, era quase como se estivesse dentro de uma nuvem, mas ali não era o paraíso para estarmos dentro de uma.
       Então eu pude a sentir chegando, uma aura de tranqüilidade encheu o lugar, como sempre acontecia quando ela estava por perto, e então, ela apareceu, surgindo do nada. Estava andando calmamente e eu não pude deixar de me sentir pequena diante daquele ser tão divino. Ela era incomum, muito alta e branca, da sua cabeça pendiam cabelos castanhos claros enormes que quase arrastavam no chão, seus olhos eram pratas e brilhantes; ela vestia uma veste cinza, que tinha um capuz enorme que, com certeza cobriria meus olhos se eu o vestisse. Ela não estava com o capuz hoje, e eu pude notar mais uma vez que ela estava cansada, como sempre muito cansada. Agora ela já estava na minha frente e eu quebrei o silêncio ensurdecedor:
       - Olá Destino, como vão as coisas? – Achei estranho como minha voz saiu fraca. Eu devia estar perdendo a coragem, mas eu não deixaria isso acontecer. Eu tinha vindo para cá com um propósito: Nunca mais voltar aqui.
       - Tudo vai muito bem, obrigada. O de sempre, você sabe, muito trabalho a fazer. E você, Mudra, a que veio? – Ela falou, sempre muito educada, com a sua voz doce e calmante. Eu pude sentir que ela estava realmente intrigada com a minha aparição surpresa, eu só costumava vir quando me chamavam; não era mistério para Destino o fato de eu odiar tudo aquilo, ela até compreendia, afinal, a responsabilidade dela era ainda maior; pior até. Mas aquela era a natureza dela, ela não podia escolher. E eu podia, e eu não queria aquilo; eu iria desistir, por mais repugnante que isso parecesse.
       - Eu tomei minha decisão. – Eu disse, minha voz entrecortada, fraca, meus olhos para baixo. Então eu olhei pra cima, fixando os olhos pratas de Destino, e permiti que ela lesse minha expressão, permiti que ela visse todo o pesar dentro dos meus olhos, permiti que ela soubesse que eu não seria capaz.
       - Oh... Não, não Mudra. Você tem que entender, você não pode ser egoísta, tudo depende de você e da sua escolha. Você precisa ser forte. – Ela não parecia impaciente, nem irritada, ela só parecia mais cansada, mais velha, como se aquilo a desgastasse. Ela pedia o que eu não podia dar, o que eu não podia escolher; Não quando elas tinham me dado aquela vida, aquelas pessoas. Eu não podia entregar tudo aquilo, não podia condená-los à morte.
       - Não é egoísmo... Entenda... Eu não posso. Dê-me sua mão. Deixe-me te mostrar. – Mais um olhar intenso, nós nos olhamos longamente. E ela estendeu sua mão para mim, eu coloquei a minha sobre a dela e fechei os olhos. Eu sabia que, naquele momento, ela veria tudo que se estava passando em minha mente. Ela já sabia, já tinha visto aquilo tudo quando me mandou para aquele destino, mas agora ela veria a minha opinião, ela sentiria tudo o que eu senti.

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